ABRINDO AS PORTAS PARA O INIMIGO
1 Nesse
tempo, Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei da Babilônia, enviou
cartas e um presente a Ezequias, porque soube que estivera doente e já
tinha convalescido.
2 Ezequias
se agradou disso e mostrou aos mensageiros a casa do seu tesouro, a
prata, o ouro, as especiarias, os óleos finos, todo o seu arsenal e tudo
quanto se achava nos seus tesouros; nenhuma coisa houve, nem em sua
casa, nem em todo o seu domínio, que Ezequias não lhes mostrasse.
3 Então,
Isaías, o profeta, veio ao rei Ezequias e lhe disse: Que foi que
aqueles homens disseram e donde vieram a ti? Respondeu Ezequias: De uma
terra longínqua vieram a mim, da Babilônia.
4 Perguntou
ele: Que viram em tua casa? Respondeu Ezequias: Viram tudo quanto há em
minha casa; coisa nenhuma há nos meus tesouros que eu não lhes
mostrasse.
5 Então, disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do SENHOR dos Exércitos:
6 Eis
que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, com o que
entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para a Babilônia;
não ficará coisa alguma, disse o SENHOR.
7 Dos teus próprios filhos, que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia.
8 Então,
disse Ezequias a Isaías: Boa é a palavra do SENHOR que disseste. Pois
pensava: Haverá paz e segurança em meus dias (Is 39.1-8).
Introdução
Este
texto nos conta um fato real acontecido na vida do rei Ezequias, quando
este reinava sobre Judá. Depois do reinado de Roboão, filho de Salomão,
vários reis governaram sobre Judá até chegar ao reinado de Ezequias
filho de Acaz. Ele começou a reinar aos 25 anos de idade e reinou
durante 29 anos sobre Judá. A escritura registra que Ezequias:
5 Confiou no SENHOR, Deus de Israel, de maneira que depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.
6 Porque se apegou ao SENHOR, não deixou de segui-lo e guardou os mandamentos que o SENHOR ordenara a Moisés (2 Rs 18.5,6).
Tudo
que o rei Ezequias fazia agradava os olhos de Deus. O grande fato que
está registrado no reinado dele foi as pelejas contra Senaqueribe, o rei
da Assíria, que subiu contra as cidades fortificadas de Judá e as
tomou. Depois, cercou Jerusalém com seu exército. Grande vitória Judá
teve sobre a Assíria mesmo sem pelejar, pois o Senhor Deus enviou o seu
anjo ao arraial dos Assírios e naquela noite morreram 185 mil homens. E
logo após este grande livramento do Senhor veio a doença sobre Ezequias,
sua cura e, por fim, a visita dos representantes do rei de Babilônia
com presentes para o rei Ezequias.
Você
já percebeu quantas vezes agimos precipitadamente? Creio que você está
dizendo: Já perdi a conta! Algumas pessoas, movidas por um
sentimentalismo momentâneo, não atentam para cuidados essenciais na hora
de tomarem uma decisão, seja esta relacionada à família, negócios,
estudos, vida cristã, mudanças, amizades e etc. Vão logo tomando
decisões sem pensar ou consultar alguém, depois vem o arrependimento.
Precisamos tomar cuidado porque, a precipitação em tomar atitudes,
poderá mais a frente nos custar muito caro.
O
que podemos ver em nosso texto é um homem de Deus precipitando-se numa
atitude aparentemente inofensiva a ele e aos seus familiares, bem como
aos seus súditos e ao povo de Judá. Mas sua atitude não fora assim tão
inofensiva e, pior ainda, desaprovada por Deus. Em que Ezequias, homem acostumado a vencer, errou? O que aconteceu?
1 – A visita e os agrados do inimigo ao rei Ezequias
1 Nesse tempo, Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei da Babilônia, enviou cartas e um presente a Ezequias, porque soube que estivera doente e já tinha convalescido.
As
notícias sobre as melhoras do rei Ezequias chegaram até Babilônia. O
rei resolve, então, enviar mensageiros com uma carta e um presente para
Ezequias, um homem de Deus que acabara de ter experiências pessoais
tremendas com Deus, pois vencera, sem lutar, um exército de 185.000
soldados e fora curado por Deus de uma doença mortal. O rei Ezequias era
conhecido por sua fé e confiança no Senhor, mas aqui ele pisou na bola.
Por quê?
A – A visita recebida merecia uma atenção redobrada
1 Nesse tempo, Merodaque-Baladã, filho de Baladã, rei da Babilônia...
Quem
era Merodaque-Baladã? Ele era um rei babilônico, que governava um
distrito caldeu ao norte do golfo Pérsico. Seu nome significava, em
assírio, “Marduque deu um filho”. Quem era Marduque? Marduque era o deus
principal da Babilônia no tempo de Nabucodonozor. No poema de Enuma
Elish, Marduque aparece como o herói dos deuses e dos humanos e como
criador do universo. Portanto, é muito natural que este rei babilônio
seja um propagador desta divindade. Merodaque era a adaptação hebraica
desse nome e significa “rei dos deuses”. Só por este detalhe, já era
suficiente para que Ezequias não mantivesse com ele estreita relação de
amizade ou comunhão, a ponto de abrir as portas de sua casa aos seus
mensageiros. Aquela visita não era conveniente e merecia um alerta!
B – A visita veio acompanhado de agrados do inimigo
1 ... enviou cartas e um presente a Ezequias ...
As cartas e o presente foram entregues pelos enviados do rei, que devem ter chegado a Jerusalém por volta do ano 703 a.C.
Embora a palavra não especifique o tipo de presente, seria uma
demonstração de boa vontade do rei da Babilônia. A palavra presente não
significa que o conteúdo fosse apenas um objeto, algumas vezes abrange
muita coisa. É possível que Ezequias tenha recebido muita coisa, para se
sentir tão contente e ao mesmo tempo tão orgulhoso. Sem vigiar,
Ezequias abriu as portas de sua casa ao inimigo visitante.
C – O rei deveria ponderar sobre as reais intenções do inimigo
1 ... porque soube que estivera doente e já tinha convalescido.
O
que Merodaque-Baladã pretendia ao visitar e presentear o rei Ezequias? A
princípio, podemos até responder de forma bem simples: Veio presentear
um amigo que estava doente e agora tinha se restabelecido. Certo?
Aparentemente sim, mas está errado! Esta amizade não estava baseada em
laços de sinceridade. Por traz de tudo estava o interesse político deste
homem sagaz.
Merodaque-Baladã
sabia que tempos antes, Ezequias tinha se rebelado contra o pagamento
de tributos resultantes dos pecados cometidos por Acaz, seu antecessor, a
Senaqueribe, rei da Assíria. Este ato de Ezequias, que mais tarde
resultaria no cerco de Jerusalém, encorajou Merodaque-Baladã a também
rebelar-se contra o rei da Assíria, auto proclamando-se imperador da
Babilônia, reino que estava subjugado pelos assírios. Contudo, ele não
queria enfrentar sozinho esta guerra. Lembrou-se de Ezequias,
fragilizado por uma enfermidade mortal. Arquitetou logo um plano que
envolvia o envio de embaixadores e presentes para tocar o coração de
Ezequias.
Portanto,
o fato vai além de uma visita de cortesia da parte dos súditos do
monarca da Babilônia. Merodaque-Baladã, ao ver que Ezequias não estava
mais fraco, pelo contrário, fortalecia-se cada vez mais, procurou aliar
as suas forças com Judá, porque viu em Ezequias uma força que lhe
poderia ser muito útil nos seus propósitos de desbaratar a potência
Assíria, que ainda era a maior potência da época. Ezequias
errou por não atentar às palavras do seu Deus. Deus sempre advertiu o
povo a não fazer aliança com outros povos para não se contaminarem com
suas idolatrias. A Palavra de Deus nos adverte:
14 Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?
15 Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?
16 Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque
nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e
andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
17 Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei,
18 serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso (2 Co 6.14-18).
Não
podemos abrir as portas da nossa casa para as visitações babilônicas
cada vez mais frequentes e sutis. Precisamos blindar nossa vida, nosso
lar, nossos filhos, nossa família da visitação do inimigo, que vem
somente para roubar, matar e destruir. A desestabilização da família é
uma prova dos estragos que as visitas do inimigo têm produzido nos
lares.
Muitas
vezes recusamos receber “anjos em casa” (como nos diz o escritor aos
Hebreus que muitos, sem saber, hospedaram anjos em suas casas), mas
escancaramos as portas para a entrada do inimigo. Você pode estar
dizendo para si: Não tenho feito isto. Será? Não faz muito tempo, para
entrar na intimidade de alguém era preciso apresentar-se, enfrentar os
olhos nos olhos e relacionar-se pessoalmente. Esse tempo já passou.
Hoje, é possível invadir e ser invadido sem o constrangimento de
encarar. Sendo assim, recebemos constantemente visitas ímpias em nossa
casa através das mídias: rádio, televisão ou internet, cujo único
objetivo é nos levar para uma revolta ou insubordinação contra Deus.
As
novelas, que muitos cristãos não conseguem perder nem um capítulo,
propagam o espiritismo e incentivam o adultério, a prostituição, a
promiscuidade e a insubordinação. Nossos filhos estão aprendendo a
linguagem de Babilônia com horas e horas de visitação diária diante de
uma tela de computador ou TV. Devemos ter cuidado com a comunicação
virtual, onde a realidade e a fantasia se misturam com muita facilidade.
O
inimigo quer se relacionar conosco. Ele sabe que se manter ausente de
nossos laços não tem nenhuma chance de intervenção maligna em nossa
vida, que nada poderá fazer para impedir nosso relacionamento com Deus.
Ele não tem prazer em nos ver feliz, cantando e louvando a Deus, ele
quer nos ver chorando, porque seu prazer é matar, roubar e destruir. Não
podemos, não devemos ter relacionamento de intimidade, de amizade, de
cumplicidade, de sociedade com pessoas que Deus não aprova.
O
inimigo vai tentar nos seduzir com seus presentes. Ele vai te oferecer
muitas coisas, cada uma mais prazerosa que a outra, coisas que vai te
dar muita alegria e prazer, mas é tudo momentâneo, porque o preço que
ele cobra pelo prazer é muito alto. É hora de fecharmos as portas e
rejeitarmos os presentes sedutores do mundo. Jesus, lá no deserto, disse
não à oferta do inimigo. Devemos seguir seu exemplo e ouvir seus
conselhos:
15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele;
16 porque
tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos
olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo.
17 Ora,
o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a
vontade de Deus permanece eternamente (1 Jo 2.15-17).
Vigiemos! Que a porta de nossa casa, se abra somente para aquele que diz assim:
20 Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo (Ap 3.20).
2 – A empolgação de Ezequias com o inimigo
2 Ezequias se agradou disso
e mostrou aos mensageiros a casa do seu tesouro, a prata, o ouro, as
especiarias, os óleos finos, todo o seu arsenal e tudo quanto se achava
nos seus tesouros; nenhuma coisa houve, nem em sua casa, nem em todo o
seu domínio, que Ezequias não lhes mostrasse.
Ezequias
ficou encantado com a atitude do rei de Babilônia. Agradou-se até
demais com as palavras da carta e com o presente de Babilônia. Como não
atinou para as reais intenções de Babilônia, cometeu um erro muito
grave. Empolgado, sem refletir, mostrou aos visitantes suas riquezas,
seu poder bélico, seus segredos. Como entender o que aconteceu com este
homem?
A – Ezequias não buscou a orientação de Deus
Ezequias,
cercado pelo exército de Senaqueribe, busca a Deus. Acometido de uma
enfermidade mortal, busca imediatamente a Deus. Mas, aqui, ele se
esquece completamente de Deus. O que aconteceu? Com a ajuda do cronista
podemos entender, pois somos informados que, neste momento, Deus havia
desamparado a Ezequias para prová-lo:
31 Contudo,
quando os embaixadores dos príncipes da Babilônia lhe foram enviados
para se informarem do prodígio que se dera naquela terra, Deus o desamparou, para prová-lo e fazê-lo conhecer tudo o que lhe estava no coração (2 Cr 32.31).
Deus
queria prová-lo e logo de cara Ezequias é reprovado, pois não há
registro de que ele tenha buscado a direção de Deus por meio de oração e
nem pelos profetas ou pelos sacerdotes. Ezequias, fora das vistas
públicas, sem consultar seus conselheiros espirituais, recebe aqueles
homens com atitudes reprováveis por Deus. Ezequias não parou por aí,
cometeu ainda outro erro:
B – Ezequias se ensoberbeceu diante dos emissários de Babilônia
2 Ezequias se agradou disso e mostrou aos mensageiros a casa do seu tesouro, a prata, o ouro, as especiarias, os óleos finos, todo o seu arsenal e tudo quanto se achava nos seus tesouros; nenhuma coisa houve, nem em sua casa, nem em todo o seu domínio, que Ezequias não lhes mostrasse.
A
ênfase aqui está no fato de Ezequias se alegrar com eles. O sentimento
de Ezequias estava desviado para algo que não era o Senhor. O
recebimento do presente e o sentimento de prazer pelo fato do rei da
Babilônia reconhecer a sua força, fez com que Ezequias baixasse as suas
defesas. Ao mostrar a casa do tesouro, a prata, o ouro e as especiarias,
Ezequias estaria, provavelmente, a envaidecer-se com os seus bens
materiais. E logo a seguir apresenta a sua casa de armas. Certamente era
todo o equipamento para os soldados, tanto de defesa como de ataque. O
rei estava interessado em apresentar a sua força bélica à comitiva do
rei da Babilônia. Com esta exibição, Ezequias estava tentando
impressionar os seus visitantes babilônicos com as riquezas e o poder de
sua nação.
O
autor bíblico é muito categórico em dizer que não houve nada que não
fosse mostrado àqueles homens. Ezequias passou tudo a pente fino, desde a
sua casa, termo mais específico, até ao seu domínio, termo mais
abrangente. É importante realçar o tanto que o pronome “seu” está
presente no texto. A atitude de Ezequias leva o escritor a descrever os
sentimentos do rei em termos de possessão. Isto indica que o rei
sentia-se senhor de tudo o que havia na sua casa e que o reino de Judá
era seu. Mas o pior erro de Ezequias ainda estava por vir:
C – Ezequias não testemunhou os milagres de Deus em sua vida
A
Bíblia conta que os mensageiros estavam interessados na recuperação
miraculosa do rei Ezequias. Mas parece que Ezequias ficou mudo sobre sua
experiência de cura. Ele não enfatizou as coisas que teriam aberto o
coração desses embaixadores para o conhecimento do verdadeiro Deus. É
evidente o contraste entre a gratidão pela sua cura no capítulo anterior
com seu silêncio sobre esse assunto neste capítulo. Ele
se calou! Ele se esqueceu do que Deus fez em sua vida! A operação de
Deus em sua vida e na vida da sua nação parece ter desaparecido de sua
mente! Isso nos mostra como a bênção de Deus pode facilmente ser
considerada coisa natural e como os que recebem Sua misericórdia podem
se tornar auto-suficientes.
Deus
permitiu que isso acontecesse sobre Ezequias para ver se ele seria fiel
ou não, mas ele falhou redondamente. Em vez de dar testemunho daquilo
que Deus fez na sua vida, Ezequias deixou-se enredar pela tentação e
apresentar as coisas como sendo suas. A ação que Deus realizou na sua
vida deveria ser motivo para ele estar grato a Deus e ser
suficientemente humilde, em vez de ser arrogante e orgulhoso. A sua
atitude não trouxe paz nem segurança para o seu reino, pois os
embaixadores do rei da Babilônia viram ali motivos de sobra para
atacarem futuramente o reino de Judá.
Os
cristãos não são chamados a exibir sua prosperidade ou realizações
materiais, embora possam reconhecer que estas são bênçãos de Deus. Eles
são chamados:
9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pd 2.9).
Usando
a experiência de Ezequias como símbolo, podemos declarar que estávamos
morrendo, mas Cristo nos curou; estávamos mortos no pecado, e Cristo nos
ressuscitou e nos fez assentar-se em lugares celestiais.
Nós
somos muito sensíveis às tentações durante os tempos de emoção extrema.
Em momentos de tristeza, estamos sujeitos ao desespero e à depressão.
Em tempos de vitória, somos tentados a ficar orgulhosos e independentes.
O orgulho precede sempre uma grande perda:
18 A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda (Pv 16.18).
Se
deixarmos de depender de Deus e deixarmos de lhe dar glória, somos os
candidatos principais às tentações de Satanás. Somente os que se
humilham diariamente perante o Senhor estarão em alertas e preparados
para resistirem à tentação do orgulho e da presunção.
3 – A visita do profeta ao rei Ezequias
3 Então,
Isaías, o profeta, veio ao rei Ezequias e lhe disse: Que foi que
aqueles homens disseram e donde vieram a ti? Respondeu Ezequias: De uma
terra longínqua vieram a mim, da Babilônia.
4 Perguntou
ele: Que viram em tua casa? Respondeu Ezequias: Viram tudo quanto há em
minha casa; coisa nenhuma há nos meus tesouros que eu não lhes
mostrasse.
5 Então, disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do SENHOR dos Exércitos:
6 Eis
que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, com o que
entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para a Babilônia;
não ficará coisa alguma, disse o SENHOR.
7 Dos teus próprios filhos, que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia.
8 Então,
disse Ezequias a Isaías: Boa é a palavra do SENHOR que disseste. Pois
pensava: Haverá paz e segurança em meus dias (Is 39.1-8).
A – A indagação do profeta Isaías
Depois
da visita, o profeta Isaías é mandado por Deus ao rei Ezequias. Ele
poderia ter argumentado com Isaías, quando este o indagou sobre quem
eram os homens que estavam em sua casa, afinal, o que tem receber na
minha casa os meus amigos? Mas as perguntas do profeta conduz Ezequias a
refletir naquilo que fez:
3 Que foi que aqueles homens disseram?
Não
temos o registro sobre o que eles falaram, talvez, até tenha sido sobre
alguma aliança militar para enfrentar a Assíria, o que seria reprovável
por Deus, pois Judá acabara de ter uma tremenda vitória contra um
imenso exército assírio sem levantar a espada.
3 ... e donde vieram a ti?
Babilônia é conhecida como inimiga de Deus, totalmente desconhecida até aqui por Ezequias.
4 ... Que viram em tua casa?
E
o que tem a ver com o que eles tinham visto? Parece sem sentido a
admoestação do profeta dirigida ao rei. Que problema haveria em mostrar
todos os tesouros dentro do palácio aos amigos babilônicos, que souberam
de sua doença e também de sua recuperação, honrando-o com aquela nobre
visita e com presentes? Era como se o profeta levasse Ezequias a pensar:
Acabei de mostrar todos os meus segredos para alguém que não conheço.
B – O anúncio do profeta sobre o cativeiro
5 Então, disse Isaías a Ezequias: Ouve a palavra do SENHOR dos Exércitos:
6 Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, com o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para a Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR.
7 Dos teus próprios filhos, que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia.
Agora, acontece a concretização da determinação de Deus sobre este acontecimento. O cronista diz:
31 Contudo,
quando os embaixadores dos príncipes da Babilônia lhe foram enviados
para se informarem do prodígio que se dera naquela terra, Deus o
desamparou, para prová-lo e fazê-lo conhecer tudo o que lhe estava no coração (2 Cr 32.31).
Ou
seja, o que estava no coração de Deus. O cativeiro de Judá já estava
determinado por Deus e Ele queria revelar isto ao rei Ezequias. Este
acontecimento nos mostra de como a História e o coração dos homens estão
nas mãos de Deus. Isaias diz:
24 Jurou o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará (Is 14.24).
13 Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá? (Is 43.13).
Deus conhece e sabe o que vai acontecer no futuro. Na altura em que Isaías
apresenta a sentença de Deus, a Assíria ainda dominava, mas estava
prestes a cair perante a Babilônia. Isaias não é específico quanto a
datas, apenas diz que “dias virão” em que tudo será levado, ou seja, a
limpeza será completa e abrange não só as coisas de Ezequias, mas também
tudo o que foi acumulado pelos seus antepassados.
A
perda dos bens era só o prenúncio de uma perda muito mais significante
do que os bens materiais, pois haveria ainda perdas mais profundas. Não
se perderia somente a riqueza de bens materiais, a perda afetaria também
seus descendentes, os seus familiares, o seu trono. Após a sentença
acontece a reação de Ezequias:
C – A atitude Egoísta de Ezequias
8 Então, disse Ezequias a Isaías: Boa é a palavra do SENHOR que disseste. Pois pensava: Haverá paz e segurança em meus dias.
Parece
que o rei Ezequias não mediu bem as palavras do profeta. Como é
possível deixar-se perder todo um patrimônio que certamente foi
adquirido com grande esforço? Foi anunciado pelo profeta ao rei uma das
maiores tragédias que viria sobre o reino de Judá, mas ele parece que
não percebeu isso. Ao contrário do que costumava fazer, desta vez ele
não se humilhou diante do Senhor, não se colocou diante de Deus, não se
virou para orar a Deus. Tudo o que fora adquirido deixaria de fazer
parte da riqueza da linhagem real e ele pareceu não se importar com
isso, somente porque não aconteceria durante seu reinado. Uma atitude
completamente egoísta.
Se
não houvesse a parte final desta frase, poderíamos dizer que suas
palavras poderiam expressar um sentimento humilde e piedoso de
arrependimento e resignação de Ezequias. Ele poderia estar honrando a
mensagem do profeta Isaías, reconhecendo como palavras de Deus – mesmo
sendo ela desagradável e esteja condenando os seus próprios pensamentos e
planos. Mas, a parte final desta frase nos mostra que estas palavras
são impensadas, egoístas e injustificadas, pois Ezequias se preocupou
apenas com o seu tempo. Talvez, o rei até tenha reconhecido que Judá
merecia o julgamento divino, mas a sua falta de preocupação pelo
bem-estar do seu povo não demonstrou compaixão por eles.
Precipitou-se
o rei Ezequias porque não pediu a orientação de Deus, ensoberbeceu-se
diante da comitiva, não testemunhou do poder de Deus e mostrou seus
segredos sem atinar-se para as reais intenções de Merodaque-Baladã. O
rei foi repreendido por não ter pensado no perigo que era estar a
mostrar a sua riqueza aos líderes pagãos da Babilônia.
Precisamos
aprender a orar nas circunstâncias de desespero e agradecermos a Deus
pelas vitórias concedidas, nos precavendo sempre do orgulho que pode nos
conduzir a um comportamento louco e prejudicial e refletir
antecipadamente nas consequências dos nossos atos a longo prazo.
Conclusão
Quero terminar esta mensagem destacando o que a Palavra de Deus diz sobre Ezequias:
5 Confiou no SENHOR, Deus de Israel, de maneira que depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele.
6 Porque se apegou ao SENHOR, não deixou de segui-lo e guardou os mandamentos que o SENHOR ordenara a Moisés (2 Rs 18.5-6).
Apesar
da diferença de conduta encontrada em Ezequias neste episódio, a
Palavra de Deus o coloca como um grande homem, um homem de fé que
agradou ao seu Deus. Isto nos demonstra que, na avaliação de nossa vida,
os padrões de Deus são muito diferentes dos nossos padrões. Os padrões
daquele que é Santo, Santo, Santo são muito mais relativos do que os
daqueles que são imperfeitos, pecadores e miseráveis. Às vezes, taxamos,
rotulamos uma pessoa por causa de um ato, de uma atitude impensada, de
um deslize momentâneo e olhamos para ela com o canto dos olhos,
desconfiados, receosos, com descrédito e desprezo. Temos muita
facilidade em esquecer-se de uma vida inteira de dedicação, pois temos
os olhos fechados e despercebidos para as virtudes, mas escancarados e
atentos para os defeitos. Somos completamente falhos, mas tremendamente
exigentes. Tratamos aqueles que falham como se não tivéssemos nenhuma
imperfeição, como os fariseus trataram aquela mulher adúltera diante de
Jesus, com as mãos cheias de pedras e com o coração vazio de amor e de
misericórdia, mas que diante daquele que não esmaga a cana quebrada são
constrangidos a se calarem, jogarem as pedras ao chão e a saírem
envergonhados.
A
experiência de Ezequias nos mostra que devemos estar sempre alertas,
pois depois de uma grande vitória, podemos ser facilmente derrotados. A
experiência de Ezequias nos mostra o tanto que Deus prova os corações,
pois mesmo depois de aprovados, somos provados novamente por Deus. A
experiência de Ezequias nos mostra que Deus nos coloca diante de todas
as circunstâncias para ver nossa reação, para conhecer nossas atitudes. A
experiência de Ezequias nos mostra que não podemos ficar em nenhum
momento sem o Senhor e para isso precisamos buscá-lo a todo instante. Um
minuto sem Deus é suficiente para afundarmos em um abismo profundo. Que
Deus te abençoe a estar em constante comunhão com o Senhor! Amém!
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